Confesso: já tive uma paixão platônica por Soledad Villamil. Também pudera, encontrar tanta arte numa só beldade. Pois seu sorriso escondido me adota como um órfão, o segredo de seu olhar hipnótico me descobre em erros e enfatiza o que reprimo. Quando percebo, me faço de besta, variando entre um quase santo a um mísero bandido. Ademais, estar sob sua tutela significa a confissão de quem se desnorteia para o pecado, encontrando o pesar de almas em todos os pensamentos e atos. Talvez, não haja salvação, da mesma forma, talvez, não haja quem me salve.
Soledad Villamil dá o ar de sua graça na bela voz de sua cantoria. Assim como um canto de sereia que atrai pelos ouvidos até o navegador mais tímido, que navega tranquilo e seguro em seu reduto abrigo. Mas, sua presença na telona é que me fez debandar, uivar como um lobo de desenho animado, cujos olhos saem pela cabeça, caindo à boca. Sorrateiramente, pé ante pé, um dobrar de pernas e já estamos juntos de rostos colados, num bailar caliente sob sua musicalidade latina. Deveras, nem sei se é noite ou dia, e se faz tanto sentido o meu torpor ensandecido.
Enfim, é nesse ritmo de história onde me escondo sob a salva guarda da confissão. E não me importa, seja num enlaçar de pernas em que fecho os olhos guardando seu segredo ou numa memória recém criada de luxuria e sereia. Dessa forma, pode aplicar as ressalvas, mas permita-me rezar só depois desse sonho acabar. Pois antes que me desfaça num cordeirinho aflito sob jugo de uma imposição religiosa será preciso pecar. Contudo, sem pecados, essa reza é só um joguete de mentira ante uma fantasia nunca vivida.