Sou prolixo, muito prolixo
Inverto o giro da roda, a faço girar ao contrário
E nem me importo com o caminho que faço
Ainda girando em ré já me converto à paralisia do Muro sem me despedir
Que muro!
Está lá parado, servindo de olhos para tantos olhos que passam,
Por muitas vezes sem nota-lo
Ah, muro!!
Segurando cachorros, servindo de rua para os gatos,
Servindo de pouso para os pássaros,
E de arte para os artistas e seus artefatos
Meu olhar agora descansado se muda para o barulho do salto agulha.
Que finura e que altura!
Os claps, claps, que passam pela rua sentindo o peso daquela vida,
Suavizada ao largo pela cortiça e solado
Há pressão por todos os lados,
Pelo equilíbrio confiando no caminho e no passo,
E ainda por cima marcando tempo
Como um diapasão para um músico,
Como a batuta para o maestro ou a pauta ao poeta
Sim, sou prolixo, muito prolixo
E agora sou caneta, sou a tinta que fica na esfera,
Mas também sou a tinta do traço que revelo.
Queria ser uma história juntando tantos cacos,
Tantos restos de trapos dos pobres pedaços que enxergo
Mas sou prolixo,
Escrevo as voltas das rodas e os giros dos caminhos,
Invento uma prosa que não se encaixa no barulho do salto,
Pois via mesmo a pura sexualidade
Do rebolar do andar daquele corpo envolto a saia
Mas até decidirem intenção com pecado estamos todos salvos,
Como artistas desse teatro chamado vida
Todo santo e iniquo dia
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